quarta-feira, 29 de junho de 2011

TOLERÂNCIA

Muito tem se falado sobre tolerância. Drogas, homossexualidade, religiões estão entre os assuntos mais abordados nessa onda de tolerância propagada pela mídia. Então, cabe analisar do que estamos tratando aqui.
Escrevi um primeiro texto bem abrangente, mas que não era exatamente o que eu desejava expressar. Vou tentar de novo.
As pessoas estão confundindo tolerância e aceitação.
Um Mestre disse: “Nada é igual; tudo é diferente.” Por economia, não existe nada igual em todo o Universo. Afinal, cada coisa e cada ser têm sua função, individual. Sem desperdício e manifestando a Justiça absoluta. E são justamente as diferenças que fazem o movimento do Universo. Caso assim não fosse, tudo seria estático.
Há uma grande diferença entre aceitação e tolerância. Aceitamos algo por Compreensão, por Respeito. Entendimento da existência das diferenças.
Desse modo, podemos aceitar quaisquer condutas por entender que, se todos são diferentes, não há lógica em esperar ideias e atitudes iguais por parte de qualquer um. Quando as condutas são iguais? Quando as pessoas se submetem à vontade dos outros, do chefe, do professor, da sociedade, enfim, não exercem seu livre-arbítrio. Sobram raiva, frustração e crenças limitantes.
Portanto, posso entender o que leva uma pessoa a usar drogas, roubar, matar, torcer para o Corinthians, ser deputado, etc. Mas isso não significa que devo compactuar com condutas que claramente contrariam valores elevados. Alguém pode questionar esses valores e argumentar que são elevados na minha visão, mas podem não ser na opinião de outros.
Todos, em seu íntimo, sabem o que nos eleva em direção a algo mais belo e grandioso. Pensamentos de amor, gratidão, bondade, alegria nos trazem sensações boas, de liberdade, felicidade, paz. O contrário, pensamentos de raiva, vingança, ódio, frustração, nos empurram para o desânimo, a tristeza, nos afastam do belo, do luminoso.
Se você é Responsável, Paciente, Respeitoso fica muito mais fácil conviver com as diferenças, pois tendo princípios não se sente agredido por nada. E é justamente aí que reside o problema.
Muitos, por não terem princípios e valores, sentem-se agredidos . Defendem verdades pequenas, relativas, próprias. Esperam que todos aceitem estas verdades como absolutas. E, nos tempos que correm, chamam esse comportamento de tolerância, pois o contrário seria, justamente, agressão.
Trata-se de algo absurdo, pois obriga a quem discorda de determinada coisa (mas a entende) a se calar e ter de aceitar, inclusive, normas de conduta que contrariam seu modo de pensar. Algumas viram até lei. Corro o risco, ao me negar a fazer negócio com um homossexual, um negro, um nordestino, um judeu, um muçulmano, um crente, que isso seja interpretado como discriminação, ser processado e até preso. Qual a relação que há entre condutas e religião, etnia, opção sexual? Não há uma lei que me obrigue a alugar um apartamento para um branco, heterossexual, paulista se não gostar de seu perfil. Por que a diferença? Qual a lógica das cotas em faculdades e empresas? Outro dia um sujeito usava uma camisa onde se lia “100% negro”. Se eu usar uma camisa “100% branco” fatalmente serei acusado de racismo. Não posso ser contrário ao consumo de drogas, entender que é irresponsabilidade permitir a legalização e passeatas em prol da liberação da maconha e manifestar esse pensamento sem ser chamado de intolerante?
Aqueles que querem total tolerância, que nada seja contestado, têm uma visão distorcida, pobre em conhecimento. Por que tudo deve ser “tolerado”? Pode uma cultura, até uma civilização, sobreviver quando em seu próprio seio tolera aquelas que defendem o seu oposto (e aqui não falo de evolução, natural e inexorável, e sim de revolução)? Que se omite frente a barbáries e atrocidades, libertinagem e total ruptura de princípios e valores elevados?
E aqui entendo ser o ponto de esclarecimento, pois poucos sabem o significado de tolerância.
Diferentemente do senso comum, tolerar, em sua etimologia (tolerare – latim), é suportar pacientemente, resistir, combater, sofrer.
Assim, quando se tolera algo, o objeto da tolerância se mostra contrário àquilo em que acreditamos, ao que ressoa com nossas ideias. Daí a necessidade de suportar, resistir. Se você combate algo, é porque não gosta, não acredita, não entende, até sofre por aquilo. Alguém dirá que lutar contra algo atingindo até as raias da violência, é intolerância.
Partindo do real sentido do verbo, se tolerar é combater algo por este se mostrar contrário ao que reconhecemos certo (certo ou errado são conceitos relativos ligados diretamente àquilo que nos satisfaz, que nos causa admiração), a intolerância não seria exatamente a mesma coisa, a diferença residindo na intensidade do sentimento e da manifestação, portanto individual? Em rigor, todavia não faz nenhum sentido falarmos de tolerância entre seres iguais por natureza (como pregam os defensores do politicamente correto).
Agora, no sentido comumente usado do termo, algumas pessoas entendem que tudo deva ser tolerado. Mas elas simplesmente não toleram que outros não pensem ou ajam desta maneira. Em outras palavras, são intolerantes com os intolerantes. Qual a lógica? Onde está a Sabedoria em querer que as pessoas convivam sem discutir nada e chegar à elucidação dos pontos em questão? Diferentemente do alardeado, o tal do politicamente correto, ao policiar e até “proibir” a manifestação contrária de opiniões ao pensamento vigente, tornou-se um salvo conduto para que a crise moral em que a sociedade se encontra seja alimentada. E isto, além de triste, é muito perigoso.