quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Europa revivendo a Bastilha
O motivo financeiro da Revolução Francesa foi nada menos do que desemprego. Sempre o desemprego e o consequente abuso dos patrões é que geram insatisfação e revolta popular. A história se passa em círculos e de tempos em tempos, com formatos diferentes, volta à tona. Crises financeiras são diferentes, mas são todas iguais. Diferentes nas datas, no modo de vida dos habitantes, nos meios tecnológicos, mas quando ocorre pânico, os sintomas são sempre os mesmos. E as consequências também.
A Europa está se inflando, mês após mês, e a insatisfação pela falta de emprego, crescente. Os EUA também vivem seu momento crítico com o Federal Reserve perdido e sem uma política clara e única. De Fevereiro desse ano para cá, os indicadores de débitos e desempregos só pioraram.
E a Espanha continua o pior e mais complicado país. Em fevereiro, o desemprego na Espanha era de 17%, que agora em setembro bateu os 20%. O crescimento do desemprego segue a mesma dinâmica da inflação. Quando atinge um certo rítimo de velocidade de crescimento se torna "hiper-desemprego". E quem foi o culpado de tudo isso?
Olhando os dados do Banco Mundial, tomamos para análise a relação créditos dos bancos/depósitos que mede quanto de crédito tornou-se disponível nos países. O resulado dessa relação crédito/depósito de 1993 até 2008 mostra porque Espanha e Irlanda estão seriamente atingidas.
Quando essa relação passa de 1, significa que há mais crédito no país do que depósitos nos bancos. Na Irlanda, antes da crise, o número de crédito era duas vezes maior do que o número de depósitos. Ou seja, duas coisas pode-se dizer da Irlanda: (a) O dinheiro do crédito era todo especulativo e de fora do país; (b) Os irlandeses não fizeram poupança, refletindo num depósito menor do que o oferecido ao mercado.
Outro fato interessante é olhar que devido às crises da Ásia, México, Rússia, Brasil e Argentina no final da década de 1990, o crédito é bastante contido e dispara depois de 2004. O que aconteceu de 2004 até 2008? As bolsas explodiram em retornos em todo o mundo. O crédito inflou as bolsas em todos os ramos, seja ele imobiliário ou mesmo de outros setores visto que as bolsas cresceram na proporção do crédito.
E com tanto crédito assim, por que ainda existe desemprego na Europa, a ponto de greves estourarem em quase todos os países? Porque o dinheiro do crédito não foi usado na economia real para gerar emprego, e sim no mercado financeiro para rendimentos rápidos em bolsas de valores. Um olhar para antes de 2004 evidencia que as bolsas tiveram um retorno sim, mas não dependente do crédito e sim da "fantasia" das empresas "dot com". Enquanto na década de 1990 as bolsas cresceram perante a bolha das "dot com", na década de 2000 cresceram graças a bolha de crédito. E justiça seja feita, não somente ao crédito imobiliário, mas ao crédito em geral, pois todo ele foi canalizado para as bolsas.
E agora, o que fazer com o desemprego? Tudo bem, o sistema financeiro foi salvo, pelo menos momentaneamente. Então é hora de perder o medo e cobrar o pagamento do empréstimo. Todos os bancos ingleses deram lucro nesse ano. Então é hora da Inglaterra retirar o dinheiro dos bancos e canalizar no emprego. É hora da Espanha deixar de proteger os bancos e proteger a população fazendo o crédito voltar a economia real e não no mercado financeiro.
A situação não é mais difícil na Europa; ela agora é crítica. Ainda não dá para dizer que é época da Bastilha, mas até o final do ano, 20% de desempregados vão querer uma solução. O desemprego é como opção de compra na bolsa de valores. Quando cai no início, longe da maturidade, sempre há uma esperança que vai voltar. Mas quando o prazo vai apertando para próximo do vencimento o desespero começa a tomar conta e o pânico começa a atuar. A Europa está nas últimas duas semanas da maturação da opção, se nada acontecer de bom para aumentar o emprego da população, vai faltar pólvora na Bastilha financeira.
Ou já se chegou ao "point of no return" e o sistema financeiro está caminhando inexoravelmente para o precipício. Os déficits chegaram a tal ponto que os sacrifícios exigidos das populações se mostrarão tão grandes que dificilmente serão tolerados. Revoltas e revoltas, cada vez mais violentas.
Além disso e provavelmente o mais grave: a crise de confiança.
As pessoas, além de não investirem, acorrerão aos bancos para sacar seus recursos. Em um movimento de manada, isso resultará em quebradeira, num primeiro momento localizada. O fenômeno logo se alastrará, contaminando as instituições do sistema financeiro, tanto privadas quanto públicas.
Se analisarmos o mundo como está, nada mais natural que uma mudança abrupta tenha que ocorrer. E a magnitude deste choque só será sentida daqui a algum tempo. E não ficará restrita ao aspecto econômico. Será muito mais ampla.
Mas ao olharmos para trás, aqueles que tiverem força para reconstruir o mundo a partir do aparente caos, veremos que foi tudo necessário e não havia alternativa, afinal a escolha foi feita e as consequências... bem, as consequências são os resultados de que necessitávamos e procuramos, incansavelmente, pautar nossa conduta até alcançá-los.
Agradecimentos ao Prof. Dr. Marco Antonio Leonel Caetano, autor do texto original. Os acréscimos e modificações foram feitas para atender o espírito do blog.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
A Filosofia da Bolsa
Algumas pessoas sugeriram e eu comecei a dar aulas sobre Bolsa de Valores. Afinal, operar no mercado financeiro passou a ser minha principal atividade profissional.
Ainda há muito a ser desenvolvido no formato do curso, mas um ponto sempre norteou meu pensamento a esse respeito: passar para os alunos a filosofia ali contida. Um amigo, inclusive, me incentivou a focar o curso nesse ponto. Não que a sistemática de operações e as análises técnicas fossem deixadas de lado. Mas, o importante é entender a natureza, a essência da Bolsa.
Podemos considerar o aspecto psicológico como protagonista nas relações de compra e venda de papeis nesse braço do mercado de capitais. Entretanto, há mais. O conhecimento contido no funcionamento de todo o sistema traduz o estágio em que a sociedade se encontra, diversos arquétipos sendo acessados e manifestados.
Somos espelhos dos outros, vivendo na ilusão da separação. Ao acordarmos, o Conhecimento tornando-se consciente, nada restará escondido. Estaremos integrados com o Todo e sabedores do que temos que fazer.
Quando as pessoas compreenderem o funcionamento dos mercados, não haverá mais mercado, pois todos os agentes antecipariam as ações e reações uns dos outros (na verdade, só existiriam ações). Nesse momento, a sociedade estaria em um ponto em que não haveria mais necessidade e, principalmente, sentido no capitalismo que hoje impera.
A ideia de uma sociedade sem ganância, não mais baseando sua felicidade na ilusão da posse de bens materiais (ilusão dupla), pode parecer utópica e até contraditória para quem ganha dinheiro da forma exatamente oposta. Entendo, porém, que inexoravelmente caminharemos para isso.
Não sei se estarei aqui quando esse momento chegar, mas até lá o mercado obedece certos padrões. Conhecê-los, portanto, faz toda a diferença para quem pretende vencer nessa sociedade.